

Sonhos Além do Trabalho Infantil
Na aldeia de Chinde, no interior de Moçambique, após o rio Zambeze, o dia 12 de junho amanheceu com um significado especial. Hoje, a comunidade celebrava o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, refletindo sobre o lema deste ano: “O trabalho infantil, além de ilegal, compromete o desenvolvimento psicológico das crianças, privando-as de uma infância saudável e feliz.” Entre as muitas histórias, a de Amadu destacava-se por sua força e resiliência.
Amadu tinha apenas 10 anos, mas seu olhar carregava a seriedade de quem havia enfrentado muito. Desde muito pequeno, ele trabalhava nas plantações de chá para ajudar sua família. O trabalho árduo não lhe deixava tempo para brincar ou estudar. Suas mãos pequenas, calejadas pelo trabalho pesado, eram testemunho de uma infância roubada. Para Amadu e muitos outros na aldeia, trabalhar desde cedo era uma necessidade para a sobrevivência da família, um ciclo que se perpetuava por gerações.
Naquela manhã, a escola local preparou um evento especial. Crianças, professores e moradores da aldeia reuniram-se para discutir o tema do dia e ouvir histórias que despertassem a consciência sobre o problema do trabalho infantil. Amadu, incentivado pela professora Dona Lúcia, decidiu compartilhar sua história.
Com a voz firme, mas o coração acelerado, Amadu contou como era acordar antes do sol e trabalhar até o anoitecer, sem tempo para brincar ou estudar. “Eu queria ir à escola, aprender a ler e escrever. Mas todos os dias, eu só via chá à minha frente,” disse ele.
Os olhares atentos da plateia refletiam a dor e a indignação pela realidade de Amadu. Seus pais, Amina e Mussa, estavam entre os presentes. Eles tinham crescido trabalhando na terra, assim como seus pais antes deles. “Nós nunca tivemos a chance de estudar,” confessou Amina. “Sempre acreditamos que o trabalho era necessário para sobreviver. Mas não queremos que Amadu tenha a mesma vida dura que nós tivemos.”
Dona Lúcia, emocionada, falou sobre a importância da educação e de proteger os direitos das crianças. “Cada criança tem o direito de ser criança. O trabalho infantil não deve ter lugar em nossa comunidade,” afirmou ela. Inspirados pela coragem de Amadu e pelo apoio da comunidade, os moradores de Chinde começaram a discutir maneiras de garantir que nenhuma outra criança tivesse que enfrentar a mesma realidade.
Para marcar o compromisso da aldeia com a proteção das crianças, todos se reuniram para plantar uma árvore no pátio da escola, simbolizando um novo começo. Amadu, com um sorriso esperançoso, segurou a muda e disse: “Hoje, plantamos não só uma árvore, mas também esperança e um futuro melhor para todas as crianças de Chinde.”
Crônicas da Terra
Uma iniciativa da Fundação Universitária para o Desenvolvimento da Educação, com o objectivo de educar e conscientizar o público sobre questões ambientais e sociais que afectam Moçambique.